A beleza só existe quando da virtude e da verdade tudo sabe.

Publicado por O Perfeito Idiota às 18:15

sábado, 28 de julho de 2007


Hoje já aqui não viria se não fosse o caso matéria importante. Mais se informa, que esta reveste-se da maior relevância para o presente da sociedade, praticamente assolapada pela idiotia amiúde. Depois de uma noite grosseiramente mal dormida, torna-se inevitável juntar letras e palavras em forma de frases sobre a matéria mais idiota de todos os tempos: o amor. Mas, inevitável porquê?

Porque não há nada mais expurgado de inteligência no mundo, especialmente hoje em dia, do que amar. Amar sendo um idiota e/ou amar sendo transformado num idiota são as duas faces de um quotidiano fermentado numa assombrosa intolerância à frustração. Esta abnegação cândida pelo prazer imediato e livre de frustrações, contratempos ou contrapartidas é uma forma de expressar o amor como forma expurgada de entender uma relação com o outro (entenda-se: pessoa amada), ao ponto de valorizar, facilitar e utilizar, vezes sem conta, o seu carácter desvinculativo.

Ponha o braço no ar, quem nunca ouviu isto:
- "olá... hoje acordei diferente... não sei bem o que tenho mas sinto-me uma confusão em relação a ti e a nós... Preciso de tempo, sabes... quero tempo e espaço para reflectir... contigo ao meu lado isso não é possível porque tu sufocas e atrapalhas a minha liberdade, o meu tempo... o tempo com os amigos, com a família, comigo mesmo... Tu és impecável e o sexo até é bom... mas... não! Não vale a pena continuar algo sem sentido e que está condenado ao fracasso..."

Confuso..? Vejamos: o vínculo emocional com o outro já não é capaz de receber e alimentar o amor mútuo e de fornecer as estimulações sensoriais e psicológicas necessárias para o manter e motivar. Hoje em dia, o vínculo reduz-se a um libidinoso espectro físico de atração, apetite e satisfação. Mais, possui o inverosímil poder de complacência a uma situação canibalesca e por demais idiota. É neste território pantanoso, entre a verdade dos sonhos e ambições de cada um, e a impossibilidade de compreender o outro na realidade, que se adia o amor e que se constrói a intolerância à frustração.

O amor apresenta-se como um enigma sem chave de resolução na última página, porque nos faz conviver com a idiotia, a desculpa fácil e a mentira, para chegar à verdade, na qual as convicções giram numa autêntica dança kusturinesca e os valores e as razões de cada um esbarram no outro, sem que ninguém se faça ouvir. Esta destruição do amor, revela-se diariamente tanto naqueles idiotas que amam como naqueles que, em nome do medo da solidão, querem ser amados:

«Angola, Novembro de 1995
Ana,
Nunca pensei que as tuas palavras me fizessem tanta falta… Já nem o vento as traz… De que cor são as flores a que cheira o teu cabelo? De que tecido é a fita com que o prendes que já não o sinto bater-me no rosto quando o vento o embala, ao som da sua música? Quantas folhas tem agora o bonsai que com tanto carinho tens, pousado na janela do quarto onde tantas vezes dormimos juntos?
Ana… sinto a tua falta… porque não vens para junto de mim?
Daquele que te ama,

Mário»
(http://pensandoemti.blog.com/atom/)

E é por isto que, com pequenas alterações nas personagens e no enredo, a idiota lengalenga do amor é conhecida. Dada a sua crescente vulgaridade, é escusado comentar ocorrências do género: basta inventariá-las. Talvez o actual estado do amor signifique que inúmeros cidadãos já iniciaram o seu inventário expurgado de inteligência. Talvez... Belisquem-me se eu estiver a sonhar. Não quero parecer antiquado, porque o não sou, mas a esperança, mesmo que torturada no horizonte pelo fracasso, é ainda o que move alguns heróis, embora com alguma resistência da matilha expurgada de inteligência, é certo.

Boa? Boa.

1 comentários:

Alguém... disse...

Muito bom mesmo. Gostei bastante camarada, companheiro e amigo! Forte abraço de Alguém.